segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Surdocegueira


    ASPECTOS LEGAIS DE APOIO À SURDOCEGUEIRA


                                                                                             (Alex Garcia, Santa Maria / RS 2002)



Existem, atualmente, em nosso contexto legal mundial, várias leis e diretrizes que podem e são analisadas de forma coerente a fim de se estabelecer critérios que amparem a Surdocegueira em suas especificidades.Entre estas leis e diretrizes podemos citar:



·       A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948;

·       A Declaração dos direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência de 1975;

·       A Promulgação Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as pessoas portadoras de Deficiência de 2001;

·       As Normas Uniformes das Nações Unidas para a Participação e Igualdade das Pessoas com Deficiência de 1993.



  As Normas uniformes (anexo IV. ONU, 1993) são um conjunto de 22 disposições favoráveis que contemplam praticamente toda a vida de um portador de deficiência. Foram aprovadas pela Assembléia Geral das Nações Unidas em sua 48º sessão, mediante resolução 48/93 de 20 de dezembro de 1993.

É importante destacar que todo país signatário das Nações Unidas deve respeitar e colocar em prática estas normas. Praticá-las significa melhorar a qualidade de vida das pessoas com de deficiência.

Em seus 22 artigos, contemplam-se todos os aspectos importantes da vida, como: família e integridade pessoal, seguridade social, educação, reabilitação, emprego, esporte e recreação.

As normas uniformes, por nortearem as necessidades dos portadores de deficiência com bastante profundidade e clareza, também são altamente consideradas pela cultura Surdocega no mundo.

Porém, nenhuma destas diretrizes legais assinaladas destaca tão precisamente a Surdocegueira e os Surdocegos quanto a declaração de Salamanca de 1994, que destina seu artigo 21 às Políticas educacionais de surdos e de Surdocegos.

Já no contexto nacional legal, podemos destacar as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, aprovada em 3 de julho de 2001, pois em alguns de seus artigos estão explícitas diretrizes que amparam a questão da Surdocegueira.

Primeiramente destacamos o art. 8º, VIII, que destaca a flexibilidade temporal do ano letivo, assim determinando:



Temporalidade flexível do ano letivo para atender as necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas, de forma que possam concluir em tempo maior o currículo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar grandes defasagens idade/série.



Neste pressuposto, pode-se enquadrar a Surdocegueira tanto pré-lingüística quanto pós-lingüística quando se refere às graves deficiências múltiplas. O importante, porém, é não confundirmos ou simplificarmos deficiência múltipla, que sabemos se tratar de duas ou mais deficiências em um indivíduo com “soma” de deficiências, ou seja, o Surdocego legalmente é sim considerado um deficiente múltiplo, porém funcionalmente deve ser entendido como um deficiente único, indivisível e a condição de que é portador, específica, com abordagens e metodologias próprias.

Então, vistas estas características, a flexibilidade temporal escolar de que trata o pressuposto possui maiores chances de serem efetivas para os Surdocegos que possuem as condições primárias para serem incluídos em escolas regulares.

O art. 10 da mesma lei também merece atenção pois destaca que:



Os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais e requeiram atenção individualizada nas atividades da vida autônoma e social, ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão significativas que a escola comum não consiga promover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse complementado, sempre que necessário e de maneira articulada por serviços de saúde, trabalho e assistência social.



Analisando este artigo, é inegável a grandiosa assistência que dispensa aqueles portadores de deficiência que necessitam de apoio individualizado, intensos e contínuos, como é o caso dos portadores de Surdocegueira pré-lingüística

Para o Surdocego pré-lingüístico, existe a necessidade do trabalho individualizado, com intensidade e continuidade variadas, respeitando as diferenças de cada um.

Com estes indivíduos Surdocegos, o trabalho desenvolve-se de “um para um” (um professor para cada um educando) tornando-se praticamente impossível do ponto de vista prático-metodológico o contrário.



O art. 12, inciso 2º descreve que:



Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema braille e a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa, facultando-lhes e as suas famílias a opção pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em cada caso.



Nesse artigo, fica assegurado ao portador de Surdocegueira, principalmente a pós-linguística, acesso aos conteúdos curriculares mediante utilização de recursos e adaptações comunicativas que lhes assegurem funcionalidade acadêmica.

Neste sentido, podemos destacar que, além dos métodos comumente conhecidos, como braille e língua de sinais, seriam aceitos e respeitados outros métodos e adaptações próprias à Surdocegueira, como o alfabeto digital, língua de sinais adaptada, braille táctil, escritas na mão, etc. Além disso, é claro, o acesso a um guia-intérprete compreendido como recurso comunicativo, pois tratando-se de Surdocegos, por mais que a intelectualidade esteja preservada e sendo este linguísticamente apto a várias formas de comunicação, é imprescindível o acompanhamento de um profissional habilitado em guia-interpretação para que o processo ensino-aprendizagem se efetive.

Em síntese a estes pressupostos legais, gostaríamos de deixar claro que toda a legislação destinada às deficiências, independente de serem nacionais ou internacionais, buscam derrubar barreiras e preconceitos acerca das diferenças que são explicitadas nas várias condições.

Porém, acreditamos ser de fundamental importância dedicarmos uma atenção especial à Surdocegueira do ponto de vista da interpretação e ajuste legal.

Compreender a Surdocegueira como uma deficiência, tanto em seu nível pré-lingüistico quanto pós-lingüístico, tanto em suas intensidade severas e profundas quanto leves e moderadas, de caráter degenerativo ou não, é imprescindível para a organização, interpretação e realização de qualquer diretriz legal.







SURDO-CEGO OU SURDOCEGO?

CAMINHOS DA SURDOCEGUEIRA

Izabeli Sales Matos

Podemos fazer tudo o que quisermos desde que nos

apeguemos ao que queremos por tempo suficiente” 

(Helen Keller)



                   A visão e a audição são importantes sentidos de conexão com o mundo, que levam o individuo a perceber, compreender, conceituar e relacionar-se como o meio, consigo e com os outro. Desta forma, a perda ou déficit destes sentidos pode levar o indivíduo, quando não estimulado a tempo e

adequadamente, a apresentar prejuízos diversos e distintos dos que apresentam as pessoas com surdez ou deficiência visual, especialmente nas áreas do desenvolvimento psicomotor e na comunicação, o que deverá afetar significativamente a inclusão social desta pessoa. 

                   O surdocego não deve ser encarado como um surdo que ficou cego ou um cego que perdeu a audição. Deve ser visto como uma pessoa com perdas audiovisuais que apresenta necessidades distintas daquelas que possui o surdo e o cego. A terminologia surdocego, escrita sem hífen, apesar de ser um termo não dicionarizado é utilizada como forma de ratificar a unicidade desta deficiência, proveniente da perda desses dois sentidos distais muito importantes para a apreensão e compreensão do mundo.

                   De acordo com essa premissa, considera-se pertinente referir o conceito de surdocegueira adotado pela 1ª Conferencia Mundial Hellen Keller ¹:

Surdocegos são os indivíduos que tem uma perda substancial de audição e visão, de tal modo que a combinação das suas deficiências causa extrema dificuldade na conquista de habilidades educacionais, vocacionais, de lazer e social. (Kinney, 1977, p. 21).



                 Conforme Garcia (s/d), surdocego brasileiro e fundador-presidente da GAPASM - Associação Gaúcha de Pais e Amigos dos Surdocegos e Multideficientes, para classificar alguém de surdocego é necessário que esse indivíduo não tenha suficiente visão para compensar a perda auditiva ou vice-versa, que não possua audição suficiente para compensar a falta de visão.

                   O universo das pessoas com surdocegueira é muito diverso, estas podem ser classificadas em dois grupos: surdocegueira pré-linguística e surdocegueira pós-linguística. A primeira, quando a perda audiovisual ou auditiva se deu antes da estruturação da linguagem e a segunda classificação, quando a deficiência foi adquirida após essa estruturação. Ressalta-se ainda o nível das perdas onde destacamos: surdocegueira total, surdez profunda ou severa com resíduo visual, surdez moderada ou leve com cegueira, surdez moderada com resíduo visual e finalmente perdas leves, tanto auditiva como visual

                   Entretanto, diante da diversidade e intensidade das perdas, observa-se e acredita-se na evolução do desenvolvimento dessas pessoas, onde a possibilidade de  comunicação é fator preponderante para esse avanço. A comunicação, também bastante diversificada, varia de acordo com o nível e época de aquisição das perdas, além das preferencias e adaptações de cada indivíduo. Assim, os movimentos, gestos, expressões faciais, fala, braille, libras, alfabeto manual na mão, escrita na palma da mão, além de recursos como loops (para ampliação de voz), CCTV (ampliação de letras e figuras), tellethouch (aparelho de conversação), tablitas de comunicação, sistema pictográfico, linha braille e outros, são fundamentais para auxiliar no processo de interação do surdocego. Ressalta-se ainda a importancia do guia intérprete, que mais que um intérprete é um mediador entre o meio, o outro e a pessoa com surdocegueira.

                   Desta forma, em todo o mundo, surdocegos, famílias, amigos e instituições lutam pela legitimação desta deficiencia como forma de favorecer o processo de inclusão dessas pessoas, promovendo assim, sua acessibilidade efetiva à sociedade, através da garantia de seus direitos, como cidadãos que são. Acreditando no potencial e competencia dessas pessoas, evidencia-se que mais que instituições, os surdocegos precisam estar nessa luta já que são eles os maiores interessados e conhecedores de suas necessidades e desejos. Aos outros, cabe possibilitar essa efetiva participação, para que pessoas com surdocegueira,sejam sujeitos e fazedores de sua própria história.

Referência Bibliográfica

Kinney, R. A Definição, Responsabilidades e Direitos dos Surdocegos. In: Anais I Seminário Brasileiro de Educação do deficiente Audiovisual – ABEDEV. São Paulo, 1977.

http://www.agapasm.com.br/index.asp. Acessado em: 03/10/2007.













SURDOCEGUEIRA



DEFINIÇÃO

·    A criança Surdocega tem uma das deficiências menos entendidas. Não é uma criança cega que não pode ouvir, ou uma surda que não consegue ver. É uma criança com privações multisensoriais, a quem foi efetivamente negado o uso simultâneo dos dois sentidos distais." (C. McInnes e Treffry, 1982,p. XIII).

·    O governo federal americano, em 1990, define a expressão "crianças com surdocegueira":

“[...] crianças e jovens que apresentam deficiências auditivas e visuais, cuja combinação cria necessidades tão severas de comunicação, desenvolvimento e de aprendizado e outros que elas não conseguem ser devidamente educadas sem o concurso de uma educação especial e serviços a ela relacionados, além daqueles que seriam fornecidos para crianças somente com deficiências auditivas, deficiências visuais, ou incapacidades graves, para avaliar suas necessidades educacionais devidas a essas deficiências concomitantes."

·    "Considera-se que pessoas são surdocegas quando apresentam graves deficiências visuais e auditivas que resultam em problemas de comunicação, informação e mobilidade". O grupo deverá incluir:



§ Pessoas com dificuldades severas visuais e auditivas de nascença ou adquiridas na tenra infância, e as que desenvolveram a deficiência na vida adulta.

§ Pessoas que, sofrendo de deficiência em um sentido, estão nos estágios iniciais de uma dificuldade secundária com prognóstico de deterioração com o tempo.

§ Pessoas cujo grau de dificuldade de visão ou audição é difícil de avaliar, mas que funcionam como deficientes visuais e auditivos." (Grupo Liaison de serviços aos surdocegos no Reino Unido).



·    "É uma condição que resulta da combinação de acentuadas limitações no domínio sensorial - visão e audição -, causando-lhe dificuldades únicas, nomeadamente em termos da comunicação e com graves implicações no desenvolvimento." (Departamento da Educação Básica, Núcleo de Orientação Educativa e de Educação Especial, Lisboa, Portugal).



CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO A INTENSIDADE DAS PERDAS

Ø  Surdocegueira total;

Ø  Surdez profunda com resíduo visual;

Ø  Surdez moderada ou leve com cegueira;

Ø  Surdez moderada com resíduo visual;

Ø  Perdas leves, tanto auditivas quanto visuais.



CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO A ÉPOCA DE AQUISIÇÃO



1 - SURDOCEGO PRÉ-LINGÜÍSTICO

·    Surdocegueira Congênita;

·    Surdocegueira após o nascimento, mas antes da aquisição da linguagem;

·    Surdez antes da aquisição da linguagem e posterior cegueira.



2 - SURDOCEGO PÓS-LINGÜÍSTICO

·    Surdocegueira após a aquisição da linguagem;

·    Cegos com posterior Surdez.



CARACTERÍSTICAS DA SURDOCEGUEIRA

ALSOP (1993: 02) citando MACINNES & MACINNES (1990) afirma que as crianças surdocegas:



·    Têm percepção distorcida do mundo;

·    Parecem estar retraídas e isoladas;

·    Têm falta de habilidade para comunicar-se com o meio ambiente de forma significativa;

·    Têm falta de curiosidade e de motivações básicas;

·    Têm problemas de saúde que acarretam sérios atrasos no desenvolvimento;

·    São defensivas ao toque;

·    Têm extrema dificuldade em estabelecer e manter relações com outras pessoas;

·    Têm falta de habilidade para antecipar eventos futuros ou o resultado de suas ações;

·    Têm dificuldades com a alimentação e com a rotina do sono;

·    Tem problemas de disciplina, frustração, atrasos no desenvolvimento social, emocional e cognitivo, devido à inabilidade para comunicar-se;

·    Desenvolvem estilos únicos de aprendizagem.





CARACTERISTICAS DE CRIANÇAS SURDOCEGAS (MAIS ENCONTRADAS NAS RUBEOLICAS):



COM BAIXO DESEMPENHO:

·    São resistentes ao contato físico;

·    Não expressam intenção comunicativa. O choro, o gemido e movimentos corporais são formas não intencionais de comunicação;

·    Apresentam comportamentos estereotipados ou autistas;

·    Utilizam os sentidos remanescentes apenas para sensações corporais;

·    Apresentam auto-estimulação proprioceptiva e sinestésica;

·    Podem ter vida auto-erótica ou apática;

·    Não têm consciência de pessoas ou objetos;

·    Não demonstram comportamento antecipatório;

·    Apresentam baixo nível de resistência a frustrações;

·    Apresentam atraso no desenvolvimento neuro-psico-motor por falta de estimulação ou condições de saúde;

·    Apresentam dificuldades com alimentação principalmente rejeição de alimentos sólidos ou mudanças na rotina alimentar;

·    Tem necessidades médicas adicionais. Em geral apresentam-se muito debilitados (infecções pulmonares, respiratórias, problemas cardíacos associados, convulsões e hospitalizações freqüentes).

·    Demonstram dificuldades na aceitação e adaptação de óculos e Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (principalmente).









EM UM NÍVEL INTERMEDIÁRIO OBSERVA-SE QUE:

·    Podem apresentar comportamentos estereotipados;

·    Não têm forma estruturada de comunicação, mas expressam intenção comunicativa;

·    Têm aproveitamento dos sentidos remanescentes: tato, olfato e paladar; Início do uso funcional dos resíduos lesados: auditivo e visual;

·    Demonstram comportamento de imitação;

·    Podem ainda usar as pessoas para obter o que querem;

·    Demonstram algum interesse pelo mundo de objetos e pessoas;

·    Conseguem lidar com alguns estímulos novos;

·    Respondem melhor à estimulação visual do que à auditiva;

·    Podem apresentar hiperatividade;

·    Apresentam alguma independência motora em Atividades de Vida Diária;

·    Apresentam dificuldades com alimentação, principalmente com alimentos sólidos ou mudanças na rotina alimentar.





COM BOM DESEMPENHO:

·    Demonstram uso funcional dos resíduos auditivo e visual;

·    Demonstram aproveitamento dos sentidos remanescentes;

·    Apresentam comportamento de antecipação e imitação;

·    Demonstram mais progressos no desenvolvimento psicomotor;

·    Aceitam e se adaptam aos óculos e ao Aparelho de Amplificação Sonora Individual;

·    Demonstram interesse por expressão pictórica;

·    Apresentam alguma comunicação natural por gestos indicativos e representativos;

·    Demonstram capacidade para aprender sinais da Língua Brasileira de Sinais (Libras).







Como Ajudar um Surdocego.

1.   Ao aproximar-se de um surdocego, deixe que ele se aperceba da sua presença com um simples toque.

2.   Qualquer que seja o meio de comunicação adotado, faça-o gentilmente.

3.   Combine com ele um sinal para que ele o identifique.

4.   Aprenda e use qualquer que seja o método de comunicação que ele saiba.

5.   Se houver um método mais adequado que lhe possa ser útil, ajude-o a aprender.

6.   Tenha a certeza de que ele o percebe, e que você também o está percebendo.

7.   Encoraje-o a usar a fala se conseguir, mesmo que ele saiba apenas algumas palavras.

8.   Se houver outras pessoas presentes, avise-o quando for apropriado para ele falar.

9.   Avise-o sempre do que o rodeia.

10.                    Informe-o sempre de quando você vai sair, mesmo que seja por um curto espaço de tempo. Assegure-se que fica confortável e em segurança. Se não estiver, vai precisar de algo para se apoiar durante a sua ausência. Coloque a mão dele no que servirá de apoio. Nunca o deixe sozinho num ambiente que não lhe seja familiar.

11.                    Mantenha-se próximo dele para que ele se aperceba da sua presença.

12.                    Ao andar deixe-o apoiar-se no braço, nunca o empurre à sua frente.

13.                    Utilize sinais simples para o avisar da presença de escadas, uma porta ou um carro.

14.                    Um surdocego que esteja se apoiando no seu braço, se aperceberá de qualquer mudança do seu andar.

15.                    Confie na sua cortesia, consideração e senso comum. Serão de esperar algumas dificuldades na comunicação.

16.                    Escreva na palma da mão do surdocego com o seu dedo indicado;.

a.    Qualquer pessoa que saiba escrever letras maiúsculas, pode fazê-lo na mão do indivíduo surdocego, além de traços, setas, números, para indicar a direção, e do número de pancadas na mão, que podem indicar quantidades.

b.   Escreva só na área da palma da mão e não tente juntar as letras. quando quiser passar a escrever números, faça um ponto, com o indicador, na base da palma de sua mão, isso lhe indicará que dali em diante virá um número.



SURDOCEGUEIRA

A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO



Comunicar é preciso

Os Meios de Comunicação do Surdocego

Alex Garcia



No desenvolver deste artigo, abordaremos aquilo que para muitos significa o único caminho a seguir para desfrutar de um desenvolvimento e de uma vida de relação, digamos, um tanto mais potencial. Este caminho que falamos é o da comunicação. Não há nada sem comunicação e nada pode ser vista fora dela. Mesmo assim, considerando a causa e efeito de todo e qualquer desenvolvimento, muitas vezes buscamos aprender e ensinar, sem realmente conseguirmos nos comunicar adequadamente com nossos semelhantes e com nosso mundo. Desta forma organizamos este trabalho, tendo em conta os meios de comunicação comumente usados por indivíduos Surdocegos, com o objetivo de demonstrar o quanto é salutar e jovial o espírito humano para se comunicar.

Nosso destino reservou-nos, muitos pensam assim, uma das piores deficiências que pode existir em um ser humano - a surdocegueira. O destino nos tira a cada dia que passa um pouco mais de nossa visão e de nossa audição. Para muitos de nós, estes dois preciosos sentidos, não existem mais, para outros tantos, eles nem sequer chegaram a surgir. Mas apesar de nossa deficiência, que nos reserva surpresas a cada instante, muitas, assustadoras, que fazem nosso coração e mente dispararem, buscando abrigo, segurança num mundo profundo, na maioria das vezes sem luzes nem som, mas que ainda há um pouco de ar para nos mantermos vivos.

Assim somos desejosos de nos comunicarmos com o mundo que nos cerca. Queremos conhecê-lo, experimentá-lo, fazer-nos sentir parte dele, enfim respirar o ar que ainda resta. A comunicação para nós surdocegos tem uma importância crucial em várias áreas de nosso desenvolvimento. Toda nossa aprendizagem, por exemplo, passa exclusivamente por uma adequada comunicação. Não podemos aprender e posteriormente ensinar se não nos for transmitido toda e qualquer mensagem de uma forma clara e precisa, mas não menos potencializadora de nosso pensamento.

Nossa vida de relação também sofre defasagem conseqüente de nossa deficiência. A interação e as constantes trocas com nosso meio, para muitos acontecem de forma obscura e para outros, inexistem, a não ser que tenhamos algo ou alguém para nos colocar em "contato" com nosso mundo. Tanto a aprendizagem quanto às relações que estabelecemos com nosso mundo, devem e são encarados como fatores indispensáveis para nossa boa - dentro de nossas características - saúde física e mental.

 Muitos por não terem experienciado nenhum tipo de interação, não terem sentido e conseqüentemente respondido a alguns estímulos básicos, ou até mesmo, não terem sido compreendidos pelo seu mundo, mergulharam tão fundo em sua solidão que hoje constituem casos graves e até mesmo irreversíveis de isolamento. Dessa forma, nossa mão se abre. Abra a sua e vamos partir para uma viagem à um mundo singular, onde as relações com a realidade acontecem através do prazer infinito de se comunicar.





Meios de Comunicação



INTÉRPRETES E LÍNGUA DE SINAIS - O meio mais comum.

Nascendo-se surdo, a língua materna é a de sinais. O acréscimo da perda visual restringe seu uso conhecido, visuo-espacial, para ser adaptada, tornando-se, cinestésica-espacial, ou seja, o surdocego visualiza mentalmente características de cada sinal através do movimento. Já o intérprete do surdocego que na maioria das vezes exerce também a função de guia, guia-intérprete, é um agente extremamente capacitado. É através dele que a pessoa surdocega alcança o mundo circundante. É imprescindível que o guia intérprete conheça os meios de comunicação comumente utilizados, para que possa comunicar-se eficazmente com o surdocego.



CCTV: Apoio de Leitura

O CCTV amplia a figura até sessenta vezes o seu tamanho. Com sua ajuda pode ler e escrever mesmo que a visão residual seja muito pobre.



BRAILLE:

A técnica braille consiste-se de pontos em relevo que combinados formam letras. Para escrevê-los usamos uma chapa, também chamada de reglete, e um punção. Usamos também uma brailler - máquina de escrever constituída de seis teclas. Uma característica importante da técnica braille, é que ela independe de materiais físicos como o reglete, o punção ou a brailler para ser comunicativa. Apenas devemos entender que a técnica braille constitui-se de "seis pontos não obrigatoriamente em relevo" para estabelecer uma comunicação ou seja, onde houver a possibilidade de trabalharmos "seis pontos" a técnica braille estará sendo usada e bem aceita.



TELLETHOUCH - Aparelho de Conversação

Este aparelho tem teclado de uma máquina braille e um teclado normal. O teclado braille assim como o teclado normal levantam na parte de trás do aparelho uma pequena chapa de metal, a cela braille, uma letra de cada vez. A Tellethouch constitui-se, apesar de sua idade de criação, um dos principais meios de interação do surdocego com outras pessoas. Ao interlocutor do surdocego basta saber ler. Sabendo ler precionará as teclas normais da tellethouch como se estivesse redigindo um texto escrito qualquer.



TABLITAS DE COMUNICAÇÃO

Fabricadas em plástico sólido, representam em relevo as letras e os números ordinários, assim como, caracteres do sistema braille. As letras e os números estão superpostos aos caracteres braille. O dedo da pessoa surdocega é levado de uma letra/número a outra(o) ou de um caracter à outro, estabelecendo desta forma a comunicação.



DIÁLOGOS - Fala Escrita

O diálogo inclui uma máquina braille/aparelho de escrita, uma máquina de escrever eletrônica, um gravador e uma conexão telefônica. A pessoa surdocega escreve na máquina braille. O texto é impresso no papel da máquina de escrever para a pessoa vidente ler e vice-versa. As conversas podem ser estocadas na memória do aparelho se assim for desajado. A pessoa que receber a conexão de telefone precisa do diálogos, um teletexto, uma impressora equipada com modem de um computador.



ALFABETO DACTICOLÓGICO

Cada uma das letras do alfabeto corresponde a uma determinada posição dos dedos da mão. Trata-se do alfabeto manual utilizado pelas pessoas surdas. Apenas que neste caso está adaptada à versão tátil.





LETRAS DE FORMA

Encontra aqui um método verdadeiramente simples. A única condição necessária para que funcione é que nosso interlocutor conheça as letras maiúsculas do alfabeto: As letras são feitas na palma da mão, ou em qualquer outra parte do corpo do surdocego, uma sobre a outra. O próprio dedo indicador do interloctor, ou o dedo do surdocego é usado como caneta.



TADOMA

Quando falamos em tadoma, estamos nos referindo ao método de vibração do ensino da fala. A criança que está sendo ensinada no tadoma tem que colocar uma e inicialmente às duas mãos na face da pessoa que está falando. Com bastante treino e prática a possibilidade de se comunicar através deste método tende a ser grande.



SISTEMA PICTOGRÁFICO

Os símbolos de comunicação pictóricos - Picture Communication Symbols (PCS) fazem parte de um Sistema de Comunicação Aumentativa (CAA) que se refere ao recurso, estratégias e técnicas que complementam modos de comunicação existentes ou substituem as habilidades de comunicação existentes. Em síntese, o sistema pictográfico consiste-se de símbolos, figuras, etc, que significam ações, objetos, atividades que entre outras características podem servir como símbolos comunicativos, tanto receptivamente quanto expressivamente.



CONCLUSÃO

Em síntese a esta pequena contribuição gostaríamos de deixar claro que a qualidade essencial de qualquer vida satisfatória e recompensadora passa quase que exclusivamente por uma interação entre as pessoas. Há pessoas surdocegas que não possuem desenvolvida uma linguagem formal. Ainda assim, elas tem uma consciência muito forte de outras pessoas, situações, ambientes, objetos, etc....

Desta forma que acreditamos que comunicação não é apenas linguagem. Comunicação pode ser a "Linguagem Interna" que é construída de experiências de vida e esta, tem um poder tão grande que foge aos sentidos humanos; tem entre outras qualidades, a luz, o som, o ar, o toque, o movimento, a sabedoria e o talento.





REFERÊNCIAS



Comunicate Com Nosotros. Fundación ONCE Lerner Printing, S.A Madri, 1990.

Johnson, Roxanna M. The Picture Communication Symhols Guide Mayer - Johnson Company, 1998.



Shields, Ioan. Tadoma: O Método de Vibração do Ensino da Fala - Tolking Sense . Vol 34, nº 4 Winter 1988.



The Finnish Daf - Blind Association. Os meios de Comunicação do SurdocegoMimiografado, não datado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário