sexta-feira, 9 de março de 2012

Ministério de Surdos transforma vidas por meio da transmissão do evangelho em libras
Ivan Machado, líder do Ministério de Surdos da Videira, gesticula com um dos surdos, enquanto fala baixinho “eu dou uma pra ele” e me explica o que estão conversando. “Ele disse que o filho dele está triste porque queria ganhar uma bíblia, mas o pastor não fez o apelo no fim do culto.” É quando me chama para sentar junto aos surdos em um grande círculo de cadeiras, onde ocorria uma reunião pós-culto para debater e tirar dúvidas sobre o culto que eles haviam acabado de assistir. “Se apresente”, diz Ivan. Sem saber o que fazer, olho para ele que diz. “Eu vou interpretar, pode falar.” Ao me apresentar e explicar o porquê de eu estar ali, sou recebido de maneira muito calorosa e percebo uma certa empolgação por parte de todos.

Quando começo a perguntar sobre o Ministério de Surdos, Ivan explica: “Hoje, na realidade, nós temos um Ministério de educação especial, por exemplo, já recebemos aqui surdos cegos. Temos muitos membros que não são apenas surdos, recebemos também muitos surdos que têm outros tipos de deficiência. Então, na realidade, não é um departamento de surdos, é um departamento de educação especial.” Explicando que a realidade do Ministério é bem mais complexa.

Pergunto sobre a quantidade de membros do Ministério. “Hoje temos 27 pessoas, mas, por exemplo, eu não trago mais surdos cegos para cá, porque a interpretação para eles tem que ser individual, e eu não tenho intérprete para me ajudar. No começo, tinha o Nilton Câmara, que foi inclusive quem me chamou para montar esse Ministério aqui na Videira, mas já fazem quase dois anos que ele não está mais aqui. Outras pessoas também já passaram por aqui, mas quando eu tô ficando folgado, elas vão para outras igrejas criar o próprio ministério”, diz Ivan Machado. E acrescenta: “Glória a Deus por isso, eu abençôo”, mostrando que, se houvesse uma quantidade maior de pessoas servindo, seria possível alcançar mais pessoas. Contudo, o fato dessas pessoas estarem indo para outras igrejas de Fortaleza amplia a evangelização de surdos, além de criar um vinculo maior entre os vários Ministérios de Surdos da capital e do país.

Durante a conversa, Ivan me apresenta uma moça que estava do lado dele, o nome dela é Sara, nova no ministério, que está em treinamento para ajudar Ivan na interpretação dos cultos. Eu questiono ela: "O que fez você se interessar pelo Ministério?". De maneira muito segura, ela responde. “Eu visitei uma igreja e nesse dia estava ocorrendo um culto que era para surdos e eu não conseguia me comunicar. Naquele momento, vi o quanto eles precisavam que as pessoas conhecessem a sua linguagem, foi quando eu decidi estudar para poder interagir com as pessoas na igreja”, comenta Sara.

Mas em um Ministério com uma circulação tão grande de pessoas, o que não faltam são histórias interessantes. Uma delas me chamou a atenção: a história de Wilson Vieira, que se converteu através do Ministério de Surdos da Videira, onde conheceu Joana, que hoje é sua esposa. “Primeiro eles fizeram o one (curso de noivos), e depois de um ano de casados também fizeram o MMI (Ministério Casados Para Sempre", dispara Ivan, com tom de um pai que se orgulha dos filhos.

Pergunto para Wilson Vieira sobre a importância do Ministério e sobre o que ele sente falta. Wilson é categórico na resposta: “Esse Ministério é muito importante, afinal, são só as pessoas falando e falando, e o surdo? É preciso ter esse Ministério, é preciso ter intérprete, eu amo isso aqui.”

E continua: “Ai fora (no mundo), não existe comunicação, o surdo é deixado de lado, não existe aconselhamento. É através desse ministério que, quando o surdo entra na igreja pela primeira vez, e vê o intérprete, ele se sente amado, passa a se sentir igual ao ouvinte (e, na realidade, são iguais – grifo do autor). Bom, trabalhar com surdo não é fácil, trabalhar com surdo é difícil, eu sou surdo e sei (risos). No entanto, faltam pessoas para servir. Nós sonhamos que muitas pessoas possam aprender libras e venham servir com a gente, porque muitos ainda não sabem se comunicar conosco. Sonhamos ter uma interação maior com toda a igreja”, conclui Wilson.

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