Ivan
Machado, líder do Ministério de Surdos da Videira, gesticula com um dos
surdos, enquanto fala baixinho “eu dou uma pra ele” e me explica o que
estão conversando. “Ele disse que o filho dele está triste porque queria
ganhar uma bíblia, mas o pastor não fez o apelo no fim do culto.” É
quando me chama para sentar junto aos surdos em um grande círculo de
cadeiras, onde ocorria uma reunião pós-culto para debater e tirar
dúvidas sobre o culto que eles haviam acabado de assistir. “Se
apresente”, diz Ivan. Sem saber o que fazer, olho para ele que diz. “Eu
vou interpretar, pode falar.” Ao me apresentar e explicar o porquê de eu
estar ali, sou recebido de maneira muito calorosa e percebo uma certa
empolgação por parte de todos.
Quando começo a perguntar sobre o
Ministério de Surdos, Ivan explica: “Hoje, na realidade, nós temos um
Ministério de educação especial, por exemplo, já recebemos aqui surdos
cegos. Temos muitos membros que não são apenas surdos, recebemos também
muitos surdos que têm outros tipos de deficiência. Então, na
realidade, não é um departamento de surdos, é um departamento de
educação especial.” Explicando que a realidade do Ministério é bem mais
complexa.
Pergunto sobre a quantidade de membros do Ministério.
“Hoje temos 27 pessoas, mas, por exemplo, eu não trago mais surdos
cegos para cá, porque a interpretação para eles tem que ser individual, e
eu não tenho intérprete para me ajudar. No começo, tinha o Nilton
Câmara, que foi inclusive quem me chamou para montar esse Ministério
aqui na Videira, mas já fazem quase dois anos que ele não está mais
aqui. Outras pessoas também já passaram por aqui, mas quando eu tô
ficando folgado, elas vão para outras igrejas criar o próprio
ministério”, diz Ivan Machado. E acrescenta: “Glória a Deus por isso, eu
abençôo”, mostrando que, se houvesse uma quantidade maior de pessoas
servindo, seria possível alcançar mais pessoas. Contudo, o fato dessas
pessoas estarem indo para outras igrejas de Fortaleza amplia a
evangelização de surdos, além de criar um vinculo maior entre os vários
Ministérios de Surdos da capital e do país.
Durante a
conversa, Ivan me apresenta uma moça que estava do lado dele, o nome
dela é Sara, nova no ministério, que está em treinamento para ajudar
Ivan na interpretação dos cultos. Eu questiono ela: "O que fez você se
interessar pelo Ministério?". De maneira muito segura, ela responde. “Eu
visitei uma igreja e nesse dia estava ocorrendo um culto que era para
surdos e eu não conseguia me comunicar. Naquele momento, vi o quanto
eles precisavam que as pessoas conhecessem a sua linguagem, foi quando
eu decidi estudar para poder interagir com as pessoas na igreja”,
comenta Sara.
Mas em um Ministério com uma circulação tão
grande de pessoas, o que não faltam são histórias interessantes. Uma
delas me chamou a atenção: a história de Wilson Vieira, que se converteu
através do Ministério de Surdos da Videira, onde conheceu Joana, que
hoje é sua esposa. “Primeiro eles fizeram o one (curso de noivos), e
depois de um ano de casados também fizeram o MMI (Ministério Casados
Para Sempre", dispara Ivan, com tom de um pai que se orgulha dos filhos.
Pergunto para Wilson Vieira sobre a importância do Ministério e
sobre o que ele sente falta. Wilson é categórico na resposta: “Esse
Ministério é muito importante, afinal, são só as pessoas falando e
falando, e o surdo? É preciso ter esse Ministério, é preciso ter
intérprete, eu amo isso aqui.”
E continua: “Ai fora (no
mundo), não existe comunicação, o surdo é deixado de lado, não existe
aconselhamento. É através desse ministério que, quando o surdo entra na
igreja pela primeira vez, e vê o intérprete, ele se sente amado, passa a
se sentir igual ao ouvinte (e, na realidade, são iguais – grifo do
autor). Bom, trabalhar com surdo não é fácil, trabalhar com surdo é
difícil, eu sou surdo e sei (risos). No entanto, faltam pessoas para
servir. Nós sonhamos que muitas pessoas possam aprender libras e venham
servir com a gente, porque muitos ainda não sabem se comunicar conosco.
Sonhamos ter uma interação maior com toda a igreja”, conclui Wilson.
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