quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Deficientes auditivos celebram Dia Nacional do Surdo, na Praça da Imprensa - 26 de setembro -

Grupo aproveitou para reivindicar maior inclusão para os surdos na educação.



Membros de várias comunidades representantes de deficientes auditivos de Fortaleza se reuniram na Praça da Imprensa, em Fortaleza, na manhã desta quinta-feira (26), para comemorar o Dia Nacional do Surdo. Cerca de 300 pessoas, entre estudantes, pais de alunos surdos, intérpretes e professores, estiveram no local.

Cerca de 300 pessoas estiveram na Praça da Imprensa comemorando o Dia Nacional do Surdo FOTO: WILSON MEDEIROS
Além de celebrar a data, os participantes do evento reinvindicaram ações de inclusão para os surdos, principalmente na área da educação. Segundo o Censo de 2010 do IBGE, o Ceará tem cerca de 250 mil surdos ou portadores de alguma deficiência auditiva. Deste número, cerca de 35 mil estão em idade escolar. Entretanto, só exisem duas escolas para surdos no Estado: o Instituto Cearense de Educação de Surdos e o Centro Educacional Felippo Smaldone, que têm como língua de instrução a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras).
O professor universitário Emiliano Aquino é pai de um garoto surdo. Segundo ele, seu filho possui uma vida normal por ter frequentado uma das poucas escolas bilingues existentes em Fortaleza. O professor reconhece que seu filho é uma exceção e que apenas uma minoria dos surdos conseguem ter acesso a este tipo de escola. "Na verdade,  uma minoria das crianças surdas do Brasil têm acesso a uma escola bilingue. Elas têm, portanto, a possibilidade de adquirir a lingua de sinais logo nos seus primeiros anos e ter uma vida normal. No plano de educação, a nossa luta é por uma escola bilingue, ou seja, uma escola em que a língua de instrução seja a Língua Brasileira de Sinais, a Libras, e que ensine o português escrito como a segunda língua. Isso sendo dado, os surdos têm todas as condições de uma inclusão social e de inclusão educacional", disse.
Outra barreira para os surdos é a ausência de concursos bilíngues, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para Marcus Weydson, um dos participantes do evento, as ações tomadas durante o vestibular são insuficientes para garantir a inclusão dos surdos no certame. "Como é que o surdo faz a prova do Enem? Com um intérprete. Isso é uma acessibilidade sim, mas são muitos surdos e o intérprete não vai conseguir atender a todos os alunos. O surdo usa o seu visual, portanto a Libras precisa ser traduzida de uma forma visual. O surdo tem o direito de fazer uma prova sinalizada para que ele possa compreender, mas o Enem e o MEC ainda não se sensibilizaram com isso", disse Marcus, que é surdo e conversou com a reportagem através do auxílio de um intérprete.
O estudante David Nascimento, também surdo, disse, com o auxílio de uma intérprete, que a comunicação com os amigos não surdos é feita através de mímicas e da escrita. O estudante contou que um de seus sonhos era que a linguagem brasileira de sinais fosse difundida para toda a sociedade. "Eu tenho muitos amigos não surdos com quem eu me relaciono bem, mas sem aquela fluência. Preciso apelar para mímicas, escritas ou o alfabeto básico dos surdos e isso dificulta muito. Eu quero que meus amigos se tornem ouvintes, conheçam a Libras para que possam me acessar nos seus grupos, na sua comunicação. Eu queria muito isso. Seria uma grande felicidade para mim", afirma.
http://tv.diariodonordeste.com.br/media/embed/0d42f7e6ab7e42afef8473389b89959f/620/350

Linguagem Brasileira de Sinais é obrigatória na grade curricular dos cursos de licenciatura
Willer Sysner é professor de Libras na Universidade de Fortaleza (Unifor). De acordo com ele, o capítulo II do decreto 5626 do Governo Federal, que regulamenta a lei de Libras no Brasil, diz que a linguagem deve constar na grade curricular das universidades e nas licenciaturas de ensino superior. Entretanto, o professor conta que o aprendizado na disciplina é muito mais do que simplesmente os sinais. "Na disciplina, nós trabalhamos não somente os sinais, mas também trabalhamos os conceitos que são relativos à cultura surda, à identidade surda e às teorias que falam da comunidade surda. Além dos sinais, as pessoas aprendem também as questões teóricas da comunidade surda e, aos poucos, isso vai sendo difundido na academia", explica.
O professor disse ainda que o aprendizado da Libras não depende apenas do conhecimento dos sinais, mas também do contato com pessoas que se expressam através desta linguagem. "Assim como o aprendizado de qualquer língua, a pessoa precisa ter contato com o nativo, com o falante daquela língua. No curso da disciplina de Libras, a quantidade de conhecimento e de conteúdo é menor. Somente com a disciplina de Libras não é possível ter este conhecimento. O aluno vai ter que ter contato com a comunidade surda até conseguir ter uma fluência, uma proeficiência desta língua", finaliza.
Creaece oferece curso de Libras à população
Em Fortaleza, o Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Ceará (Creaece), pertencente ao governo do Estado e localizado no bairro de Fátima, oferece cursos básicos gratuitos de Libras. Os interessados em aprender a linguagem devem entrar em contato através do telefone (85) 3101-7826

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