quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Uma prova real de inclusão social nos EUA

Uma prova real de inclusão social nos EUA


A partir da esquerda:Kimberly Dodge, Christopher Lehfeldt, Scott Smith, Carolyn Stern, Angela Earhart e Michael McKee. 
Em Rochester, onde se concentra uma das maiores populações surdas dos Estados Unidos, não é surpreendente o fato de encontrarmos um médico surdo que trabalhe na cidade. O que pode ser surpreendente é Rochester ter se tornado o lugar escolhido para residência por seis profissionais da área de saúde: quatro médicos, um veterinário e um dentista. Todos foram crianças surdas e conhecem a língua dos sinais. “Aqui as pessoas não ficam te olhando porque você é diferente”, disse o Dr. Michael McKee, que se mudou para Rochester em julho de 2004, para trabalhar como médico de família da seguradora Lifetime Health. Ele calcula que um terço de seus pacientes sejam surdos. 

Apesar de não haver estatísticas sobre o número de médicos surdos nos Estados Unidos, estima-se que sejam algumas dezenas, mas provavelmente não cheguem a 100. Cliff Andrews, 55, de Brighton, recentemente visitou McKee para um exame. Andrews, que é surdo, sentou-se na mesa em frente a McKee e respondeu às perguntas deste. Tanto o médico quanto o paciente usavam a língua de sinais para se comunicar. “Eu prefiro desta forma”, disse Andrews, usando a língua de sinais. Os médicos surdos locais se especializaram em suas áreas de atuação. Cada um deles também fez ajustes para garantir que possa trabalhar tão bem quanto seus pares sem problemas de audição. 

McKee fez um implante coclear no ano passado, um dispositivo que foi implantado por cirurgia em seu ouvido direito, que permite que escute bem o suficiente para usar um telefone tradicional. Permite também que use um estetoscópio amplificado, conectado a um processador que ele usa no cinto, para ouvir os batimentos cardíacos e auscultar os pulmões de seus clientes. O processador envia o som para o implante e permite-lhe ouvir as batidas cardíacas. O Dr. Kim Dodge, veterinário, utiliza um instrumento que exibe visualmente o ritmo cardíaco em uma tela portátil. E a Dra. Ângela Earhart, obstetra e ginecologista residente no Strong Memorial Hospital, conta com a ajuda de um intérprete. Na sala de operações, o intérprete usa uma máscara transparente para que Earhart possa fazer leitura labial com mais facilidade. 

A Associação de Profissionais Médicos com Problemas de Audição foi fundada em 2000, à medida que mais estudantes e profissionais surdos da área médica perceberam que tinham problemas comuns e que poderiam lidar deles melhor se fizessem isso coletivamente. “Nós temos barreiras específicas, diferentes das de outros profissionais”, disse McKee. 

Em termos nacionais, cerca de 1% da população norte americana é surda, segundo o Centro Governamental de Pesquisas dos Estados Unidos. Este número é maior em Rochester, onde se localizam o NTID e a Escola Rochester para Surdos. McKee constata que há em Rochester maior conscientização da sociedade sobre o tema da surdez e muitas pessoas têm conhecimento básico da língua americana de sinais. Quando surgiu uma oportunidade de emprego na Lifetime, ele rapidamente se candidatou. O trabalho prometia ser acessível aos surdos e pacientes com problemas de audição. A equipe conhece língua de sinais e sabe usar telefones de texto. As salas de exame têm luzes estroboscópicas que são ativadas quando entra um médico, que em outra situação bateria na porta. 

A dra. Carolyn Stern, uma médica de Brighton que tem sua própria clínica, dirige um carro com placas personalizadas “MÉDICA SURDA”. Ela acredita que isso ajuda a educar algumas pessoas que se surpreendem ao ver que surdos podem dirigir, e mais ainda serem médicos. “As pessoas diziam que eu não conseguiria. Mas eu as escutei? Não”, disse Stern sorrindo. Ela se comunica facilmente com seus pacientes - cerca de 30% dos quais são surdos, falando ou usando a língua de sinais. Ela raramente usa os serviços de um intérprete. Logo na primeira consulta, ela conversa com os pacientes sobre sua perda de audição. 

David Siegel, chefe do departamento de pediatria do Hospital Geral de Rochester, estava procurando um médico para preencher uma vaga na unidade de desenvolvimento do comportamento infantil no hospital. Um conhecido mencionou o Dr. Scott R. Smith, que por acaso era surdo. Para Siegel, a surdez de Smith “foi um bônus para nós. Estamos realmente felizes em ter Scott trabalhando no departamento. Isto permite ampliar nossa própria compreensão sobre a diversidade de forma incrível”. 

Smith trabalha com um intérprete, que o acompanha em suas visitas, em reuniões do corpo médico e na maioria das reuniões com os pacientes; quase todos os seus pacientes, até agora, são deficientes auditivos. 

Siegel não é o único que acredita que a surdez tem suas vantagens. “Já que não posso ouvir, dependo da leitura labial para saber o que está sendo dito - e posso ver quando há cáries nos dentes”, disse Dr. Christopher Lehfeldt, um dentista que se mudou para Rochester em 1991 “Odontologia, para mim, é a carreira perfeita”. 


Fonte: Democrat and Chronicle 

Tradução: Cynthia Berriel 

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