A Lei de Cotas e a garantia da inclusão
Desde a criação da Lei de Cotas, que completou 22 anos, pessoas com deficiência encontram mais oportunidades no mercado de trabalhoUm ano após ser promulgada a Lei de Cotas (Lei 8.213/1991), Paulo Oliveira, então com nove anos, perdia quase toda a audição devido a uma queda de árvore. Hoje, aos 30 e com o primeiro filho por vir, ele já trabalhou em quatro empresas e está cursando o pré-vestibular para entrar em uma faculdade de Administração.
Depois do acidente, Paulo completou os estudos no Instituto Cearense de Educação de Surdos e começou a trabalhar aos 19 anos. Com apoio do irmão, ele se cadastrou no Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT) e participou de seleções de emprego até ser contratado.
Há seis anos, ele trabalha como auxiliar de apoio na Embracon, onde presta serviços de apoio logístico como digitalização de materiais e envio de e-mails, correspondências e malotes. Ele conta que precisou se esforçar muito para aprender as atividades e que, por vezes, é difícil se comunicar com os colegas. Mas alguns deles já aprenderam a Língua Brasileira de Sinais (Libras), como Bianca Farias, que mediou esta entrevista.
Ao lado de Paulo, trabalha Victor Morais, 26, que ocupa o mesmo cargo. Ele nasceu com cifoescoliose dorso lombar – encurvamento anormal da coluna vertebral – que se desenvolveu apenas após os oito anos de idade. Ele conta que, na época, o médico deu a opção de fazer uma cirurgia, mas a mãe teria recusado devido ao risco de Victor não resistir ao procedimento.
Superando a convivência difícil com alguns colegas na escola, ele terminou os estudos e começou a trabalhar em uma lan house para ganhar experiência. Depois de dois anos, foi recomendado por uma amiga para exercer o cargo atual. Para o futuro, ele pretende estudar e passar em um concurso público, além de trabalhar com animação como autônomo.
Assim como Paulo e Victor, mais de mil pessoas com deficiência entraram no mercado de trabalho no Estado no primeiro semestre deste ano, de acordo com dados da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Ceará (SRTE-CE). Em 2012, foram empregados 1.594 profissionais.
A supervisora de Pessoas e Resultados da Embracon, Susana Ribeiro, afirma que a proposta da empresa é promover a igualdade entre os funcionários. “Todos são tratados da mesma forma”, explica. “Não é por ser um funcionário surdo, por exemplo, que ele deixará de realizar alguma função que esteja dentro de suas limitações”.
Para Fátima Almeida, gerente de atendimento especializado a pessoas com deficiência do Sine/IDT, órgão filiado à Secretaria Estadual do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), ao contratarem pessoas com deficiência, as empresas promovem a responsabilidade social e contribuem para a dissipação do preconceito. “Além disso, as pessoas com deficiência têm um bom potencial e desejam trabalhar, o que é positivo para a empresa”, explica.
Restrições das empresas
Ela afirma que ainda há empresas que querem apenas trabalhadores com deficiências muito leves. “Isso dificulta a inclusão dos demais deficientes”, afirma. “É preciso que o empresário tenha um novo olhar e veja as pessoas com deficiência como profissionais que possam desenvolver um bom trabalho e que são produtivos”.
A gerente diz ainda que as adaptações necessárias para receber os funcionários devem ser vistas como investimentos. “Não são custos, mas ferramentas de trabalho”
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