domingo, 23 de junho de 2013

O que faz os manifestantes rejeitaram tanto os partidos políticos | Política | O POVO Online

O que faz os manifestantes rejeitaram tanto os partidos políticos | Política | O POVO Online

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"O mais importante é que a galera não está indo por partido e sim cada um por si.” A frase é da estudante Jéssica Loyola, 22, que na última quarta-feira, 19, se encaminhava para o protesto em Fortaleza. Se em outros momentos de efervescência política no Brasil as siglas partidárias tomaram a frente do processo, dessa vez elas foram deixadas à margem pelos próprios cidadãos.

Não foram poupadas nem mesmo as agremiações de esquerda, que historicamente têm maior penetração junto aos movimentos sociais e grupos estudantis. Pelo contrário, essas siglas foram alvo, sendo que militantes foram expulsos e até agredidos em alguns casos. O que teria gerado esse descontentamento, que em alguns momentos descamba para a intolerância?

Para os especialistas, os partidos teriam falhado no seu papel básico de intermediários entre a sociedade civil e o Estado. Aqueles que estão indo às ruas não têm demandas bem definidas, mas sabem que querem serviços públicos de qualidade e um sistema democrático capaz de oferecer maior participação popular na política – coisas que os partidos até agora não conseguiram proporcionar. Esse descontentamento também se dá em outros países.

É um problema da representação política, algo que já ocorreu recentemente na Europa e nos Estados Unidos e que agora chega ao Brasil. “É preciso que a estrutura política incorpore novos elementos de participação, pelos quais a sociedade possa, por exemplo, propor leis e discussões no Congresso”, explica Ricardo Monteagudo, especialista em Filosofia Política da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Alguns mecanismos do tipo, lembra ele, já existem, mas está evidente que precisam ser alargados e aperfeiçoados.

“As pessoas veem o uso de partidos como instrumento de jogatina política. Elas não se sentem mais representadas pelos partidos e vão às ruas para representar a si mesmas”, reflete o cientista político Uribam Xavier, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Dispensar partidos é bom?
Mas o curioso é que esse desgaste parece ter vindo cedo demais em uma democracia jovem como a do Brasil, onde os partidos só se reorganizaram após o fim do regime militar, há menos de 30 anos. Nos protestos dos últimos dias, não ficou claro se o movimento é apartidário (que não pertence a nenhum partido) ou antipartidário (que é contrário, hostil aos partidos em geral). Seria mesmo pertinente e adequado que agora tais instituições fossem literalmente afastadas das discussões relevantes e dos movimentos sociais?

Na opinião do presidente da ONG Instituto Politizar, Célio Studart, isso não só é inadequado, mas também arriscado, pois pode criar um distanciamento ainda maior entre sociedade e política. Segundo ele, exigir mais instrumentos de participação popular e ao mesmo tempo querer impedir a entrada dos partidos é contraditório e pode até prejudicar o futuro desses movimentos. “As pessoas estão buscando uma democracia mais participativa, mas isso não vai acontecer se os partidos e os políticos não comprarem essa ideia”, adverte. (Marcos Robério)

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