Deus em sua maravilhosa Graça e
soberania resolveu conceder dons aos homens. Em
meio à diversidade de dons e
ministérios distribuídos no corpo de Cristo, somos
chamados para liderar seu
rebanho. Prover alimento saudável, cuidar dos ferimentos
e proteger as ovelhas
das feras predadoras são algumas das responsabilidades do líder.
No entanto, a liderança da igreja
brasileira tem grandes desafios pela frente, pois
esta passa por uma crise de
identidade quanto as suas atribuições. Gradativamente
nossos líderes têm
deixado de observar e imitar o exemplo daquele que em sua
encarnação nos
ensinou um modelo de liderança servidora. Abandonamos a missão
de lavar os pés
uns dos outros ( Jo.13.14 ).
São várias as causas que levaram a
liderança cristã a se distanciar de seu papel
fundamental que é o serviço.
Dentre vários podemos citar:
O tradicionalismo onde se prioriza os
ritos, códigos e dogmas estabelecidos pelo
sistema religioso, o centralismo que
aponta apenas um individuo como cabeça
e que os liderados devem estar submissos
ao seu “comando”, a proibição da
liberdade de pensamento onde geralmente as
ideias partem pré-determinadas por
um só e não por uma equipe e o obter
vantagens financeiras em detrimento da fé dos
desavisados e desenformados.
Dentre outros motivos, se encontra
também a ausência de ética nas relações e ações das
lideranças evangélicas que
por sua vez tem gerado descredito por parte de uma
considerável parcela do povo
evangélico.
Este perfil de liderança tem
acarretado sérios prejuízos a Igreja do Senhor Jesus,
pois este se contradiz
com as palavras de Cristo “Apascenta as minhas ovelhas”
(
Jo.21.16-17). O centro da crise está na ausência do apascentar, do
serviço, de
apontar Cristo como pastor das ovelhas.
Mas Deus em sua infinita misericórdia
chama sua liderança a retornar ao primeiro
amor (Ap. 2.4), ele nos convoca ao
arrependimento (Mt.3.2). Nisto habita a esperança
a transformação e o servir.
Deus quer transformar sua liderança.
Ele ama seu povo e jamais os deixará dispersos,
haverá de levantar, reparar e
capacitar líderes segundo seu coração, com profundo
desejo de cuidar, guiar o
rebanho, conduzindo-os a pessoa do Filho, daquele que é o
modelo para uma
liderança cristã que transforma.
Nos propósitos do Eterno, está o
desejo de contemplar uma liderança que tem como
desafio transformar vidas e
comunidades. Uma liderança cristã transformadora tem o
desafio de mudar a
realidade. Como líder do rebanho devemos encorajar os
liderados para uma quebra
de paradigmas, principalmente na dimensão do serviço, e
tudo começa pela
reflexão.
O ponto de partida é refletir sobre a
maneira de como as pessoas estão sendo
dirigidas, ensinadas e influenciadas, e,
consequentemente desafiá-las a uma releitura
e reflexão das escrituras onde
certamente encontraremos a fonte para as mudanças da
realidade existente.
Munido de uma visão renovada e
transformadora, o líder poderá exercer o estilo de
liderança proposto por
Jesus. Ele disse:
“Então, Jesus, chamando-os para junto
de si, disse: Bem sabeis que pelos
príncipes dos gentios são estes dominados e
que os grandes exercem autoridade
sobre eles. Não será assim entre vós; mas
todo aquele que quiser, entre vós,
fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e
qualquer que, entre vós, quiser ser o
primeiro, que seja vosso servo, bem como
o Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e para dar a sua
vida em resgate de muitos.” (Mt 20.25-28).
Liderar é tarefa para quem gosta de
servir. São os garçons do Reino. A grandeza
do líder não está em sua facilidade
de articulação, de estratégias, de eficácia em
gestão, mas em sua capacidade de
conduzir o rebanho até Cristo que é o pastor
das ovelhas. Este fica em posição
de retaguarda apontando a pessoa de Jesus para
os liderados. A relevância de um
líder está em sua disposição para servir a Deus e ao próximo.
Os que estão guiando as ovelhas em
direção ao Sumo Pastor cabem o oficio de
acolher, apascentar, alimentar e
cuidar do rebanho. Deve estar disposto há
sacrificar seu tempo para ouvir,
aconselhar e encorajar outros, sofrer o dano,
suportar as críticas e criticar,
deve sempre usar de equilíbrio e flexibilidade
para resolver questões
complexas, oferecer ombro amigo também é tarefa
primária do líder. É um
exercício de espiritualidade que caminha para Cristo.
Para mudar a realidade, é preciso
encarnar estes valores do Reino, acreditando
em mudanças e transformações.
Liderar à maneira do Mestre, que se esvaziando
de si mesmo, tomou forma de
servo, veio como homem para servir aos homens, veio
em carne e em sua
humanidade demonstrou de maneira maravilhosa o amor de
Deus fazendo o bem a
todos, onde na cruz encontramos a expressão máxima de
seu amor pelo mundo.
(Jo.3.16; Fp.2.7)
Líderes que transformam aborrecem
todo o tipo de ostentação e poder, antes amam
a simplicidade e o serviço. A
articulação da mãe de Tiago e João, filhos de Zebedeu
para garantir um lugar de
honra aos seus filhos e resposta de Jesus nos traz clareza
sobre este questão. Mateus
nos informa:
“Então, aproximou-se de Jesus a mãe
dos filhos de Zebedeu com seus filhos e,
prostrando-se, fez-lhe um pedido. “O
que você quer”?”, perguntou ele. Ela respondeu:
"Declara que no teu Reino
estes meus dois filhos se assentarão um à tua direita e o outro
à tua
esquerda". Disse-lhes Jesus: "Vocês não sabem o que estão pedindo.
Podem vocês
beber o cálice que eu vou beber?” "Podemos", responderam
eles. Jesus lhes disse:
"Certamente vocês beberão do meu cálice; mas o
assentar-se à minha direita ou à
minha esquerda não cabe a mim conceder.
“Esses lugares pertencem àqueles para
quem foram preparados por meu Pai”. Quando
os outros dez ouviram isso, ficaram
indignados com os dois irmãos. Jesus os chamou e
disse: “Vocês sabem que os
governantes das nações as dominam, e as pessoas
importantes exercem poder sobre
elas”. Não será assim entre vocês. “Pelo
contrário, quem quiser tornar-se
importante entre vocês deverá ser servo, e quem
quiser ser o primeiro deverá
ser escravo; como o Filho do homem, que não veio
para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt. 20:20-28).
No Reino, a pirâmide é invertida. O
líder sempre será o ultimo e nunca o primeiro.
A motivação que nos leva a
labutar na obra de Deus não deve ser uma premiação
diferenciada da parte do
Senhor, mas a aspiração para ser servo. Pedir ao Pai que
nos conceda
privilégios em seu Reino é insensatez, pretensão ambiciosa, é falta de
humildade, é “loucura humana”.
Deus é soberano sobre sua liderança.
Todo líder deve ter consciência quando ao
seu ofício e submissão a Cristo, pois
ele disse: “sem ele nada podemos fazer” (Jo.15.15).
É preciso
reconhecer nossa fragilidade, limitação e fraquezas para que possamos
exercer
com eficácia nosso papel de líder do rebanho.
Discernir com clareza as dimensões de
nosso chamado é tarefa indispensável ao líder.
Submeter-se a poderosa mão de
Deus em nossas ações nos faz compreender qual é a
boa e agradável vontade de
Deus para seu povo, pois é isso que importa. Este é o
desafio: Que o rebanho
seja conduzido não pela nossa força, mas pelo cajado do
verdadeiro Pastor e
dono do rebanho.
Então, liderar é servir, é encarnar
os valores do Reino para que aconteça transformação.
Que o Senhor Jesus por
meio de sua soberania e Graça nos encoraje a liderar à sua
maneira, no modelo
que foi estabelecido pelo Pai para sua glória. Amém!